*este capítulo é a repetição do cap. XIX - CABO DO PINCEL, onde começamos a contar como apareceu e de que forma a profissão de letrista, aqueles que fundaram o ramo de luminosos, está acabando...
Estas coisas sempre acontecem num lugar sujo, onde mofo, goteira e ratos já não se importam mais com a presença humana, fazendo dali, seu legítimo habitat.
-Tenho filhos pra criar!
-Claro que tem filhos! Muitos filhos! um em cada cidade....
-Não fala assim....
-Quieto! Agora eu estou no comando. O volante agora é meu.
-Porque tá fazendo isso?
-Quieto! Chega. Agora acabou.
Vocês todos sempre aqui, dando ordens! os Reis da estrada, os donos do mundo. Nunca, nunca entrarão em extinção. O MEU trabalho é o que fez de vocês o que são hoje. Eu desenhei aquelas frases em cada caminhão. Eu inventei muitas, muitas delas com as histórias que vocês contavam.
E eu? Nunca, nunca saí daqui. Ninguém me conhece.
-Mas...
-Fecha a latrina! Quem fala agora sou eu. O LETRISTA. Repete, repete agora o que vocês nunca souberam falar vai... VAI!
-Let..
-Mais alto marmanjo!
-LE-TRIS-TA.
-Ah, agora não sou pintor! Seu sujo!
Fala, fala agora que a estrada é sua fala...Joga agora pro abismo carro de passeio, JOGA!
Você não fala porque não sabe falar. Você é caminhoneiro! Você canta! Tem até música pra vocês!... é...música seu canalha. E pra mim?...Cantam os pernilongos...
Não sei o que é estrada, não sei o que é cidade, só converso com esse pincel aqui...Cheira. CHEIRA O PINCEL!!!! Cada tinta, cada cor...Você sabia que se misturar duas cores sai uma terceira? Não! Você não sabia.
PORQUE? PORQUE? REPETE O QUE EU SOU, VAI!
-LETRISTA!
-Isso! Letrista. Parece música clássica! É... música clássica, que EU ouço aqui e que você nunca, entendeu, NUNCA vai saber o que é!
Esperei anos por esse momento. Tive paciência.
Tem máquina agora, né? Máquina com computador pra escrever suas porquices na droga do seu caminhão! Parabéeeens!
Sabe, Acho que a única coisa que se presta, até hoje, saída da tua boca, foi esse nome: LETRISTA.
Ah...Se desse tempo... você ia ter que falar de mim, onde quer que você fosse...daí ia ter até programa em televisão pra contar as coisas que EU desenhei, ouviu? DESENHEI-NO-SEU-CAMINHÃO!
Todo mundo ia rir com as piadas...rs...de ...LETRISTA! Livrinhos de LETRISTA iam ser vendidos nas bancas de jornal! EU QUE FIZ A CARREIRA DE VOCÊS!
Será que o Roberto Carlos quando canta aquele lixo, sabe que quem pintou o tal do "CORAÇÃO e o NOME DELA" , não foi você? Fui EU! EU...ouviu...eu...(baixinho, no ouvido do coitado) eu...
Mas agora não vai dar tempo de mais nada. Canta a música do Roberto, canta....
Ao fundo, um radio-gravador, tocava numa fita cassete uma música da irmã da Gretchen, Sula Miranda, Rainha dos Caminhoneiros.
-Não faz isso....
-Não vai dar tempo....(o choro compulsivo misturava-se com a baba escorrendo pela boca)
E com o cabo do pincel, o pintor, digo, o LETRISTA mata o caminhoneiro.
XIX – PAINT-BRUSH HANDLE
These things always happen within dirty places, where mouldiness, drip and rats don’t care about human the presence anymore, making from that spot their legitimate habitat.
- I have children to raise!
- Of course you have children! Many children! One at every city...
- Don’t say like that...
- Be quiet! Now I am on the command. The wheel is mine now.
- Why are you doing that?
- Be quiet! Enough. It is all over now.
- All of you always here, giving orders! The Kings of the Road, the world owners. Never, you will never go into extinction. MY JOB is what has made what you are today. I Drew those phrases on every truck. I invented many, many of them with the stories that you all have told me.
And what about me? Never, I never left from here. Nobody knows me.
- But...
- Close that latrine! Now it’s up to me to speak. THE LETTERING MAN. Repeat, repeat it now what you never knew how to say..go...GO!
- Let...
- Louder, buddy !
- LET – TER – RING -MAN.
- Oh! Now I’m not a painter! You dirty!
Speak, speak now that the road is yours...speak....Throw now the car downhill, THROW IT!
You don’t speak because you don’t know how to . You are a truck man! You sing! There is even a song for you!...yes...song you scoundrel. And for me?...The mosquitoes sing...
I don’t know what a road is, I don’t know what a city is, I Just talk to this paint-brush here. Smell it. SMELL THE PAINT-BRUSH!!! Every ink, every color...Did you ever know that if you mix two colors you obtain a third one? No! You didn’t know.
WHY? WHY? REPEAT NOW WHAT I AM, GO!...
-LETTERING MAN!
-That’s it! Letterman. It seems classic music! Yes...classic music, which I listen here and you never understood, You will NEVER know what it is!
I have been waitin years for that moment. I was patient.
We have machine now, don’t we? Machine with a computer to write your dirty words on the junk of your truck! Congratulatiooooooooonssssssssssss!
You know what...I think that the only thing that is worth, so far, that came out from your mouth, was this one: LETTERING MAN.
Oh...If there were time enough...you would have to talk about me...wherever you would go...then there would be even a TV show to tell the things which I HAVE DRAWN, you see? I- HAVE-DRAWN-THEM-ON-YOUR-TRUCK!
Everybody would laugh at the jokes...kkkkkkk....from the......LETTERING MAN!
LETTERING MAN’s little books would be sold at the newsstand! IT WAS ME WHO BUILT UP YOUR CAREERS!!!
Roberto Carlos, when he sings those junk songs, does he know that it was NOT you who painted that such “HEART and HER NAME”? It was ME! ME..did you hear?...me....(very low...on the poor man’s ear) me....
But now we have no time for anything else. Sing that Roberto Carlos’ song....sing it...
By the back, a recorder-radio, played a cassete with a song from Gretchen’s sister, Sula Miranda...The Truck Men’s Queen.
- Don’t do that...
- Time is getting over...( the compulsive cry mixed with his mouth’s dribble).
And with the handle of the paint-brush the painter, I mean, the LETTERING MAN kills the truck man.