V- O Começo

15 de maio de 1985.

Eu estudava de manhã, tinha 14 anos e minha maior felicidade era que eu estava livre da Educação Física.
Saí da escola, almocei (bastante) e fui direto para a Astros. Com meu pai, na data acima, inauguramos a Astros. O maior cliente do meu pai como vendedor foi a Drogaria Rafael de Barros em SP e o proprietário disse a ele meses antes, que só entregria o pedido da próxima farmácia se fosse fabricado na própria empresa do meu pai.

Às 13h30min eu deveria estar no meu posto.
Foi neste dia que descobri que meu pai era meu patrão.
Ensinou o que eu deveria fazer, pois a tarde , enquanto eu ficava lá, ele fazia as vendas externas, como sempre fez: de porta em porta. Antes da Atsros ele havia trabalhado em diversas empresas que fecharam.

Quer dizer, fechar empresa de luminosos, é coisa meio antiga...

Quando ele saiu para as vendas, eu sabia que precisaria fazer o que havia me pedido, eu conhecia meu pai.
Olhei para um escritório que cabiam duas pessoas.

Vazio, sem mesa. Um banquinho improvisado e um telefone numa mureta (o leitor de água).
Sempre o que eu fazia nunca estava certo. Será que isto foi ruim?
Meu pai foi ganhando pela persistência. Depois de 1 mês que eu estava pedindo uma mesa e cadeira para poder sentar, desisti. Colocaram um tambor grande de solvente e uma tábua em cima.
Improvisaram uma cadeira.

Coloquei a máquina de escrever em cima e comecei a controlar um escritório como meu pai havia me ensinado.
E somente uma vez.
Cheques?  todos preenchidos na máquina de escrever, e não poderia errar. As letras sempre acima da linha.
Notas fiscais? sem erro, na máquina, e sem catar milho, hein! ASDFG, ASDFG ....
Recados anotados com nome completo, assunto, endereço e telefone.

Voz firme.

Toda a folha de pagamento deveria ser controlada com muita eficiência: Os funcionários eram o João Hugo e o Cidinho, que fazia uma linha com giz no chão e tentava passar por baixo.
O dia todo esse Cidinho ficava soldando letras e de quando em quando gritava: Olha o Dooooooido gente!

Foi com o Cidinho que aprendi a expressão: Tô chegando agora!

É que meu pai, ao final da tarde, sempre chegava nervoso e falava muito com o João Hugo, o Encarregado....rs....encarregado do Cidinho, só, e quando meu pai perguntava para o Cidinho: -não é verdade Cidinho? Lá vinha a resposta: Tô chegando agora!

Por onde anda o João Hugo? Por onde anda o Cidinho?
Fazer uma linha com giz no chão e tentar passar por baixo! Essas coisas são loucuras saudáveis! Digo saudáveis porque hoje vejo um colaborador tentar atrapalhar o outro, Mentir, manipular fatos, inveja...

O Cidinho não. Soldava letras com estanho e ácido...epa! e gritava: Olha o dooooooido gente!

Depois veio o Miguel, que era o outro encarregado. Olhem só: Eram dois encarregados para cuidarem do serviço do Cidinho. Mas demorou paro Miguel ficar fixo na Astros. Ele estava sempre terminando o letreiro de um Motel que deve ter fechado sem o Miguel terminhar o letreiro. Eram aqueles servicinhos por conta que a maioria acaba fazendo e depois...não terminam.

Um ano depois e o escritório já estava bonitinho. Tinha até cortina.
A regra era: o cliente chegava, eu saia. não cabia!

E meu pai vendia, todo o dia vinha com o talão de pedidos lotado.
E meu trabalho nunca estava bom, sempre faltava alguma coisa. Ele sempre apontava algo que não estava certo e eu me lamentava com minha mãe.

Será que ele não gostava de mim?

Hoje sei que ele sempre me amou, porque me ensinou que trabalho tem que ser trabalho de verdade, isto que aprendi logo cedo. Nunca é tarde para aprender, mas seria melhor que sempre começassemos logo cedo.  Ensinou que dentro da empresa eu deveria respeitar aqueles que tinham mais conhecimento que sabiam mais que a mim. Lá eu não era Filho. Eu era auxiliar de escritório e office boy.

(Comendo, sempre. Muita comida)

Era muito melhor ser office boy! Ficava horas no viaduto Santa Ifigênia vendo aqueles homens escondendo uma bolinha em uma das três forminhas de empadinha....Ganhava o dinheiro quem descobrisse onde a bolinha estava. Sempre eu sabia, mas nunca tive coragem de jogar.

Aprendi a jogar fliperama!
Comecei a ter malícia, e era esqusito. Tinha conflito.
Como office boy descobri que existia a rua, um outro lado que nunca conheci. (mais comida).

Sei lá o que me deu, mas uma vez entrei no mosteiro de São Bento e chamei um Padre. disse que precisava me confessar.
Falei por meia hora.

Esse Padre suava! Pediu para que eu esperasse, pois aquele assunto deveria ser tratado por outros dois.
-Espere meu filho, disse o Padre. Trarei outros Padres que  ajudarão para você.

O que falei? ou , o que confessei?
De verdade não lembro.
Só lembro que falei tudo mentira. E saí correndo, morrendo de vergonha.
Entrei na primeira lanchonete. Mais comida.

Mas no escritório era assim: Tudo certinho, sem falhas. Sem mentiras. Meu pai detectava.
Pintura? Na calçada.
Estrutura de luminosos em acrílico? (Não existia lona) - Na calçada.
E alugamos a garagem do lado. Quem pode contestar que já estávamos crescendo? (mais comida)
E daí que passei a abrir a Astros. Às 8 hora em ponto! Saia de ônibus e levava marmita (dupla), aquelas de alumínio.E daí que a Astros já tinha seus 7 ou 8 funcionários. Pintores de luminosos, letristas, desenhista....Sempre os mesmos que trabalhavam hora aqui, hora ali, sempre sem horário, sem pressa.

Tinha um que fazia cada Lay out! Quando estava sóbrio, porque vivia bêbado. E meu pai pegava ele, e dava conselho e ele parava. Por 1 dia. Era o tempo de fazer outro lay out. Verdadeiras obras de arte.
Ai eu já dominava tudo. conhecia meu pai pelo olhar, sabia tudo o que ele queria, tudo o que eu deveria fazer ants mesmo dele me pedir. Sabia até o olhar dele censurando o meu peso, que já estava acima uns 15 kilos.
E fiz 16 anos.
Comecei a achar aquilo tudo um marasmo, uma mesmice! Só ia na empresa para encher o tanque do meu carro com o álcool que meu pai comprava de tambor para limpar acrílico. Esvaziava tudo.

Adolecentes são assim mesmo. Entendem somente o que é conveniente.
Até que idade vai a adolecência? Confesso que a minha durou um pouco mais que o previsto.
Duro é quando ela não termina. Quantos adolescentes trintões, quarentões, que acham a vida um eterno ecstasy! No sentido literário.

Enfim,
Fui demitido.
Ou é preto , ou branco!

Aprendi com meu pai. Pai e Patrão! Aprendi a dividir sentimentos, a não fazer distinção. Aprendi que recorrer a ele nem sempre resolveria, porque Eu deveria resolver. e sem entender porque eu era tratado daquela maneira? Eu já fazia tudo perfeito, mas agora as broncas eram por conta do meu peso.
Eu não queria ser tratado daquela maneira. Nem por ele, nem por nicguém, nem apanhar na escola. Perdi todo o peso que pude. Reagi.

Eu queria acertar. Eu queria elogios! E respondi, e enfrentei de maneira abrupta. Por isso desanimei. Querer acertar todo mundo quer. Continuar é que mostra verdadeiramente quem você é. E não percebia que no fundo aquilo tudo empurrava- me para a frente.

Então eu fazia de tudo para acertar, acertar para evitar conflitos, embora eles começaram a aparecer.... e acertava cada vez mais. mas nunca estava bom, sempre poderia ser melhor. Comecei a levantar as asas.

Que bobagem! As asas de um pai e de uma mãe são muito , muito maiores.

Não percebi que a Astros foi minha faculdade , não a faculdade de Publicidade que fiz.
Para meu pai, ou meu Patrão , não existia meio-certo. Era certo ou errado.

Sai, fiz teste no Bradesco e entrei.
Minha prima ofereceu-me um pouquinho a mais e deixei o Bradesco para trás.

Agora eu cuidava de um escritório de uma fábrica de lugumes e verduras pré processados.
A cultura das funcionárias de lá não estava nada longe do que eu já conhecia em luminoso.

Foi no Nosso Verde que aprendi dançar samba-roque.
Foi no Nosso Verde que aprendi dar valor para o que meu pai ensinou, porque lá eu não tomava broncas. Fazia tudo certinho. E não tomava broncas porque minhas Professoras, ou Patroas, eram fantáticas, mas Chefe mesmo, era meu Pai. Quem exige, ensina e se ensina, resultados exigirá.

Sempre teremos algo melhor a oferecer. Nunca estaremos totalmente prontos.

Vendia toneladas de Legumes .
Quando comecei, com 17 anos a ganhar o mesmo salário que ganhavam as minhas Patroas, diminuiram minha comissão. Meu pai apimentou a história e disse: o negócio é vender luminoso!

Então saí do Nosso Verde e voltei.
Fui readmitido na Astros!


V – THE BEGINING
May 15th, 1985

I studied in the morning. I was 14 years old and my biggest joy was that I was free from the Physical Exercises’ classes.
I left school, I had lunch ( a lot ) and then I went straight to ASTROS. Together with my father, on the above mentioned date, we inaugurated ASTROS. My father’s major customer was Drogaria Rafael de Barros in São Paulo and its owner told my father some months before that he wold only deliver him the order for the next new drugstore if the products were manufactured at my father’s own company.
At 1:30 p.m. I should be at my spot.
It was on this Day I figured out that my father was my boss.
He taught me what I should do, once in the afternoon, while I stayed there, He left for thel sales on the street, as He always did: from door to door. Before ASTROS existed, he had worked for other companies which shut down.
It means, shutting down luminous companies is something a little distant ago.
When he left for the sales, I knew that I had to do what he had ordered to. I knew my father.
I looked at an Office which fitted Just two workers.
Empty, no desks. A little improvised bench and a telephone set on a little wall.
Everything I ever did, was never right. Was it really bad?
My father was winning by his persistence. After being asking for a desk and a chair where to sit for one month, I gave up. They put there a big drum and a board on it.
They also improvised a chair.
I put a typewriter on the board and I started to command an Office according to what my father had taught me. And just once.
Checks? All of them filled out with the typewriter, and I couldn’t commit mistakes. The letters always above the line.
Invoices? No mistakes, with the typewriter, and without catching grains, ok ?! ASDFG, ASDFG....
Messages written down with full names, issue, address and phone number.
Steady voice.
Every pay-roll should be controlled very carefully: The employees were João Hugo and Cidinho, who drew a straight line with a chalk on the ground and tried to cross bellow that line.
All day long Cidinho kept soldering letters and, from time to time he screamed:
“Look at the craaaaaaaaizy, guys!”
It was with Cidinho that I learned the expression: “ I’m Just getting here now”!
The fact is that my father, by the evening, always arrived angry and he talked a lot to João Hugo, the man in charge....rsrsrs....in charge of Cidinho – only of him – and when my father asked Cidinho: “Isn’t it true, Cidinho? ” There came the answer: “ I’m Just getting here now!”
Whereabouts Is João Hugo? Whereabouts is Cidinho?
Drawing a straight line with a chalk on the ground and trying to cross bellow it! Those things are healthy madness. I say healthy because nowadays I see an employee trying to disturb another one, lying, manipulating facts, envy....
Not Cidinho. He soldered letters using pewter and acid....and screamed:
“Look at the craaaaaaaisy, guys” !
And then Miguel came, the other man in charge. Just look at this: Two men in charge of looking after Cidinho’s job. But it took a good deal of time for Miguel to fix himself at Astros. He was always finishing the letters for a Motel which had already closed doors before Miguel could finish it. Those little tasks made on somebody’s account that most workers assume and later on.....they do not finish them.
One year later, and the Office was finally beautiful. It had even a curtain.
The rule was this: When the customer arrived, I left. There was not space enough !
And my father was always on his sales journeys. Everyday he came with his check full of new orders.
And my job was never good, there was always something missing. He always pointed at something that was not right and I complained with my mother.
Didn’t my father like me? I thought!
Today I know that he has always loved me, because he taught me that a job must be truly a job. This I have learned early. It is never late to learn, but it would be better if we always started to learn early in life. He taught me that within the company I should respect those who had a better background, those who knew things better than me. There, at the company, I was not a son. I was just a clerk and an office boy.
(Eating, always. Much food)
It was much better being an office-boy! I spent hours on Viaduto Santa Ifigênia looking at those men hiding a little ball under one of those little cans...Money was given to whom guessed under what can the little ball was hidden. I always knew it, but I never dared to bet.
I learned how to play flipperama!
I started to have slyness, and it was weird. I experimented conflict.
As an office-boy I figured out that on the street there was another issue which I had never realized : ( more food).
I don’t know why, but once I entered São Bento Monastery and called a Priest for confession. I talked for about half na hour.
That Priest sweat! He asked me to wait a little, once that issue should be treated by other two Priests.
Wait, son, said the Priest. I will bring other priests who will help you.
What dia I say? Or, what to confess?
I frankly don’t remember.
The only thing I remember, is that I told them lies. And I left the Monastery running, and fully ashamed.
I entered the first snack bar I saw. More food.
But in the Office it was like that: Everything alright, without faults. Without lies. My father detected.
Painting? On teh sidewalk.
Luminous structures in acrilic? ( There wasn’t tarpaulin) – On the sidewalk.
And we rented a garage beside the company.Who can doubt that we were already growing? (more food).
And then I was given the task of opening Astros everyday. At 8:00 a.m sharp!
I left home and took the bus carrying lunch-box (Double), those made of aluminum. And then Astros had already 7 or 8 employees. Luminous painters, letterists, drawer...Always the same who worked sometimes here, sometimes there, and always without a Schedule, no hurry.
There was one who made “what a kind ” of Lay-out!....when he was sober, because he was always drunk. And my father approached him and gave him advices, and then he stopped. For one Day. It was the time necessary to produce another lay-out. Real masterpieces.
And then I already had the command of everything. I knew my father by his look, I figured out everything he wanted, everything that I should do even before he asked me for. I could understand his look at me reproaching my weight, which was already 15 kgs over.
And then I was 16 years old.
I started to see all that as a sameness, a very boring thing! I only went to the company to fill the tank of my car with the alcohol my father used to buy in drums to clean acrilic. I emptied all of them.
Teenagers are really like that. They only understand what is convenient for them.
How long does adolescence last? I have to confess that mine lasted a little more than usual. But it is tough when it doesn’t have an end.
How many thirty-year-old teenagers, forty-year-old teenagers who think life is an eternal ecstasy! Within the literary sense.
At last,
I was fired.
Either it is Black, or it is White!
I’ve learned with my father. Father and Boss! I’ve learned to share feelings, and not to make distinction. I’ve learned that searching for his help not always meant the solution, because it was up to me to solve, but I didn’t understand why I was treated that way. I was already doing everything so perfectly, but now his reprimands were due to my weight.
I didn’t want to be treated like that. Neither by him, nor by anybody else, and not even being beaten at school. I lost all the overweight I could. In fact I reacted.
I wanted to do things properly. I wanted compliments! And I answered, and I faced it abruptly. That’s why I felt discouraged. Wanting to do things properly, everybody wants it. But keeping on trying is what in fact shows who you are. And I didn’t realize that deep inside all that pushed me ahead.
So I did my best to make things the right way, and I did it to avoid conflicts, although they started to appear....and then I got right more and more. But it was never good. I could always be still better. I started raise wings.
What a nonsense! The wings of a father and of a mother are much, much bigger.
I didn’t realize that ASTROS was my College, and not my graduation in Publicity.
For my father, or my Boss, there was never a half-measure. Either it was right or it was wrong.
I quit, I went through a test and started working for Bradesco.
My cousin offered me a little bit more and I left Bradesco behind.
Now I was in charge of an Office at a pre-processing vegetable industry.
The employee’s culture there was not different from what I had already learned at the luminous área.
It was at “Nosso Verde” that I really learned how to dance rock-samba...or samba-rock.
It was at “Nosso Verde” that I really learned how to give real value to what my father taught me, because there I was not rebuked. I did everything quite perfectly. I was never rebuked because by my teachers or bosses were fantastic, but the real Boss was inf fact my Father. Those who demand usually teach, and if he teaches, he will demand for results.
We will always have something better to offer. We will never be totally ready.
I sold tons of vegetables.
When I started, at my 17, to make the same salary my teachers did, they decreased my commission. My father “threw pepper” in that story by telling me: The real businees is selling luminous.
So I left “nosso Verde” and came back.
I was re-admitted at ASTROS!