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domingo, 2 de janeiro de 2011

X- Acreditar


Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mortos, desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo – acrescentou, lançando um olhar às crianças rodando na sua ciranda. Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro. Sorriu. - Ricardo e suas idéias. E agora? Qual é o programa?
Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enterrada aí. Vamos entrar um instante e te mostrarei o pôr do sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr do sol!...Ah, meu Deus...Fabuloso, fabuloso!...Me implora um último encontro, me atormenta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr do sol num cemitério...

E era dentro de um cemitério que nosso colaborador Edivaldo morava na adolescência.
Colaborador competente para comandar um departamento que tem acesso direto com a diretoria e a presidência da empresa.

Escolhia sempre túmulos mais confortáveis, dependendo do clima.
A noite ia para balada, dentro do cemitério. Com os góticos.

Bebida?

Claro que todas as bebidas dos despachos.
E não era cemitério abandonado não.
Cemitério badalado.

Pela manhã, alimentação saudável.  Frutas dos túmulos dos japoneses.

E assim Edivaldo continuava seu dia.
Após a saudável alimentação, recolhia de volta, dos outros túmulos, todos os vasos que havia vendido no dia anterior.
Levava-os para fora e vendia-os novamente, literalmete os mesmos vasos, muitas vezes para as mesmas pessoas.

Através do Edivaldo descobri que tem gente que não sai do cemitério!
Ele, por exemplo, até dormia lá.
-Economia de vale transporte! dizia ele.

O melhor é que quando ele conta, assim como  o pedaço do conto da Lygia Fagundes Telles acima, conseguimos ver cada detalhe, cada momento. 

O Edivaldo tem o dom de transportar qualquer um para outra situação. 
O "Oscar" é dele, só que todos os anos.  Esse monte de atores tem que dar graças a Deus que o Edivaldo é menos um para literalmente arrancar o lugar de muita gente famosa....rs.

Por onde ele passa ele deixa todos às gargalhadas, e sem piadinha. Assuntos seríssimos, trágicos e sempre muito, muito sério. 

Depois do juiz trabalhista jogar um monte de processos no chão e gritar comigo: EU TENHO 1O ANOS DE EXPERIÊNCIA!!!!, (eu, preposto) , Minha irmã tremendo, eu imaginando as condições da cela que eu ficaria, porque o juiz não deixava ninguém falar! Chamaram a testemunha EDIVALDO! EDIVALDO! Testemumha da Astros Luminosos EDIVALDO!

Entra o Edivaldo.
-Senta! grita o juiz que começa a falar sem parar, nervoso.....rs.

O Edivaldo, calado, sentado, levanta o olhar para ele.

Olhar fatal.

Lentamente levanta o dedo.
Não o braço, o dedo.
E sem mexer um músculo da face diz sílaba por sílaba:

-POSSO FALAR?

Abaixa o dedo.
Silêncio mortal.
Naquele momento o Edivaldo já havia roubado a cena de um Russel Crowe, tranquilamente.
Minha barriga já estava na Quinta Sinfonia de Beethoven.

O juiz derrete-se:
-Fala.
Pode falar.

E o Edivaldo suspira, ajeita-se na cadeira e a partir de então coloca a audiência abaixo com 20 minutos de um verdadeiro espetáculo.

Causa ganha.

Ele tem o tempo exato da comédia, passa pelo bom drama e leva-nos com um estalar de dedos à catarse da tragédia grega.

Faz juz a adolecência vivida num cemitério.
Não foi um revoltadinho. 
Destes que não terminam o que começam. Que "pedem para sair".
Os vendáveis. Os que, se estudam, é para TER, jamais para SER.

Geração Y:  HELLOOOOOOO!!!!!!
(excluo a geração Y que está na Astros Hoje, nosso orgulho, sendo um deles, Profissional do Ano)

Estes que digo, não teriam condicões de cuidar de um filho com paralisia infantil, como hoje cuida o Edivaldo, cujo um dos filhos é especial. Edivaldo foi e é um revolucionário. Aguenta o tranco.

Não é PUXA-SACO! (pronto Patrícia -psicóloga da Astros- fui pro popular!)

Depois do cemitério arranjou um emprego melhor.

Empresa nem sei do que, mas trabalhava externamente com um colega fazendo manutenção em mansões no Jardim Europa.

- Quer ver a gente não comer marmita nunca mais?
- Ah, Edivaldo, pára com isso.
- Dá tua marmita aqui.
-Tó.
-Tira a tampa, deixa a marmita sem tampa. Tem que aparecer só esse arroz feio e essas duas salsichas parecendo dedo quando sai da piscina.

O Edivaldo bate na porta principal. Sabia que a criadagem não estava e que a madame iria atender.

-Será que a senhora poderia esquentar minha marmita? A Suzete sempre esquenta, mas bati nos fundos....acho que ela não está....( O rosto que o Edivaldo faz é bem melhor que o do Gato de Botas do Sherek)

Mas não dá pra escrever aqui o rosto que o Edivaldo faz quando imita a madame olhando a marmita com o arroz feio e os dedos saídos da piscina, digo as salsichas.

-Esquento... claro.
-Ah, poderia também, sem querer abusar, arrumar outro prato? é que dividirei com meu amigo.

Xeque Mate!

Com os olhos marejados, a mulher dispara:

-Vou jogar isto no lixo meu filho. Chama seu amigo e farão as refeições aqui. Estão autorizados a comer na minha mesa a partir de hoje.

A coitada da Suzete, que fazia o favor de esquentar a comida dormida, agora servia a mesa ao Edivaldo e ao amigo dele na sala de jantar!

-Mais um suco, por favor!

O pior é que qualquer erro da pobre Suzete, e o Edivaldo chamaria a Patroa, com aquele sininho que até hoje, não achei em antiquário nenhum.



X – BELIEVING

He turned around towards an old wall in ruins. He indicated with his eyes the gate made of iron, already semi-destroyed by rustiness.
An abandoned cemetery, Darling! Alive and dead people, all of them went away. Not even the ghosts were left...look over there how the little children are playing with no fear – he added, looking at the children enjoying that moment. She breathed her cigarette very slowly...and threw the smoke at his fellow’s face. She smiled.... Ricardo and his ideas. And what comes up now? What is the schedule?
Very softly he approached her to him... pulling her with his arms around her back.
-I know all of this. My people is buried here. Let’s enter for a while and I will show you the most beautiful sunset in the world.
Perplexed, she faced him a little...and then she bent her head back... laughing at him.
Looking at the sunset!...Oh, my Gosh...Fabulous, fabulous! You beg for a last meeting, makes me crazy for days, makes me coming from very far to see this fully holed ground, just once again, only once again! And what for???... To see the sunset from a cemetery....

And it was inside a cemetery that our employee Edivado lived in his adolescence.




He always chose the more comfortable tombs, depending on the weather.
At night He went to the  “ballads”(happy hour), inside the cemetery. With the gothics.
Drinks?
Of course...all the drinks used to send those... dispatches...
And that was not an abandoned cemetery. Oh no!
It was a very thrilling one.
In the morning, healthy meal. Fruit from the Japanese tombs.
And so Edivaldo went on his daily journey.
After that healthy food, he grabbed back from other tombs, all the vases he had sold yesterday. He took them out of the cemetery and sold them again, literally the same vases...and many times to the same people.
It was from Edivaldo that I learned...that there are people who do not leave the cemetery!
He, for example, even slept there.
That way he saved daily transportation tickets, he said!
The best, however,  is that when he tells these stories, as the part of Lygia Fagundes Teles’ tale I mentioned above, we are able to see every detail, every specific moment.
Edivaldo has the gift of transporting anyone to another situation.
So the “Oscar” goes to.... EDIVALDO... every year. This mountain of actors around, have to be grateful to God from the fact that Edivaldo is one less to literally take over the place of many famous people....rssrsrs....
Wherever he goes, he makes everybody laugh like crazy, and without telling dirty jokes. I mean, very serious issues, sometimes tragic ones and he is always very....very serious.
After the judge from the Working Ministery throw a pile of pending files on the floor and after shouting at me: I HAVE 10 YEARS EXPERIENCE!!!, (as to me, a representative).
My sister was trembling, and I...imagining how rough would be my cell on the jail, because the judge didn’t alow anybody to talk! And then they called the witness...: EDIVALDO, EDIVALDO!  Astros Luminosos’ witness was EDIVALDO!

So EDIVALDO enters the room.
- Sit down!...the judge shouts....and starts to speak nonstop...angry...rsrs
As to Edivaldo, he remains silent, sittng, raises his eyes at him.
Fatal look.
Very slowly he raises his finger.
Not his arm, Just his finger.
And without moving any muscle on his face, he says syllable by syllable:
-MAY I SPEAK ?
He lowers his finger.
Deadly silence.
At that moment Edivaldo had already stolen the scene from a Russel Crowe, very smootly.
My belly was already within Beethoven’s Fifth Symphony.
The judge melts himself:
- Speak.
You may speak.
And Edivaldo sighes, makes himself comfortable on the chair and then he puts that audience down in 20 minutes of a real show.

We won that lawsuit.
He has the exat time of the comedy, going through drama and takes us right away to the catarse of a Greek tragedy.
He does justice to his adolescense spent in a cemetery.
He was not one of those little revolted lads.
He is not one of those who do not finish a job they started. Those who “ask to leave”.
The marketable ones. Those who...if they study...they study just TO HAVE........never TO BE.
“Y” generation: HELLOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!
( I exclude “Y” that is at ASTROS. Today, our pride, being one of them, The Professional of the Year)
These who I refer to, wouldn’t have conditions of looking after a child with infantile paralysis, as Edivaldo does today, once one of his children has that desease.
We won that lawsuit.
He has the exat time of the comedy, going through drama and takes us right away to the catarse of a Greek tragedy.
He does justice to his adolescense spent in a cemetery.
He was not one of those little revolted lads.
He is not one of those who do not finish a job they started. Those who “ask to leave”.
The marketable ones. Those who...if they study...they study just TO HAVE........never TO BE.
“Y” generation: HELLOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!
( I exclude “Y” that is at ASTROS. Today, our pride, being one of them, The Professional of the Year)
These who I refer to, wouldn’t have conditions of looking after a child with infantile paralysis, as Edivaldo does today, once one of his children has that desease.

Checkmate!

With her eyes in tears, that woman said:
- “I will thow all this into the garbage can, my son. Call your frien and you both will have your meal here. From today on, you both are authorized to have meal at my table”.
Poor Suzete, who was always ready to warm yesterday’s food, now served lunch to Edivaldo and his friend in the dinning room!
- One more juice, please!
The worst thing is that, any mistake from poor Suzete, and Edivaldo would call  the madam with that little Bell that until today I couldn’t find at any antique dealer.



8 comentários:

  1. Edivaldo é um cara estranho. Confuso, mas peguei a ideia que você quis passar (eu acho). Eu sei que me falta coragem e que eu tenho medo de ter medo. Sei que você não me chamou de covarde e não me sinto ofendido. Já me acomodei, however eu não disse que "não quero MAIS". Quem é que não quer mais? É louco quem não quer mais. A diferença é que eu sou adivinho, eu não preciso. E nisso eu coloco a razão: quando a chance de errar é muito grande, pra que tentar? É como jogar na MEGA SENA, você só vai enriquecer outra pessoa e pra você só fica a frustração. Prevenir a remediar. Não gosto de ficar triste, gosto de curtir coisas e momentos pequenos. E gosto também dos momentos e coisas grandes, mas que venham espontaneamente e não num jogo de azar. Não quero perder todas as minhas fichas esperando que algo aconteça. Quero fazer acontecer e ver acontecer e dar resultado. Não preciso de mesquinhos, de gente que só faz errado e mal feito. Quando não é a gente que faz, não tem graça. É bom correr riscos e sentir a adrenalina do sucesso. Mas corda bamba não é comigo. Gosto de organização e as coisas no lugar. Acho que tenho muito os pés no chão, só falta aplicar. As pessoas pensam que eu estou só viajando e não vejo o que acontece por aí (falando em viajar, acho que já estou fugindo do ponto). O que eu quero dizer, no final das contas, é que não dá pra mudar de uma hora pra outra. Não serão algumas palavras que me farão outro. Claro que eu agradeço - e muito - todo incentivo e apoio à melhora e investimento em si mesmo, mas não dá pra se enganar. Viver de ilusões todo mundo vive. Só tem que saber usar isso em prol do auto-desenvolvimento. Mais uma coisa: se eu perder esse texto todo eu mato um hahuauhahu. Ah, eu tenho sonhos e metas: quero ser web designer, quero aprender pelo menos umas 4 línguas, quero ganhar dinheiro e quero ser feliz/continuar sendo. Dizer que não sou seria hipocrisia e soaria mal-agradecido também... Já reclamo demais das coisas, em vez de tentar mudar. As pessoas são muito teimosas. Obrigado pela conversa, pelo que você me passou e pela atenção. Eu li os capítulos e achei interessante. Identifiquei bastante de mim mesmo. E não tire conclusões do que eu vou falando, eu sou gente boa hauhaua. Puxa assunto, me pergunta, eu converso. Passo por louco, mas sou assim mesmo. Agora eu vou tomar minha segunda dose do remédio, comer/tomar alguma coisa e dormir. Um abraço, Leandro. Guilherme, AKA @justrlx

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  2. Escrevi praticamente uma bíblia sobre seu comentário e retirei.
    Serei objetivo: você está na corda bamba. Isso é ruim? Não, desde que faça dela um brinquedo!
    Escreva em 20 linhas um capítulo, se quiser, e o IPad vc compra. Mas será p primeiro seguidor q poderá ter 1 ou mais capítulos num blog que dinheiro nenhum compraria.
    Parabéns. Leandro

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  3. Guris, nem li e já sugiro uma coisa, super em tom de colaboração: troquem a fonte do itálico inicial, pois o O está parecendo um A!
    Daqui há pouco comento sobre o texto!

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  4. Leandro, na boa: comentário no e-mail!!!

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  5. Bom, a pedido, lá vai:
    Não levem a mal o palavrão, mas fato é que o ultimo capítulo tá do caralho! Denso, inteligente, complexo, Tão intenso quanto a Lygia Fagundes Telles com seu cigarrinho à beira de uma máquina de escrecer! Delirei, sério mesmo, delirei! Esqueci todas as fotos que vi,os
    comentários que escrevi, os tweets que trocamos, por uns minutos de pura densidade.

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  6. Obrigado pelo comentario, JK!
    O Edvaldo é nosso colaborador ate hoje e
    Este é o cap X e não o último!!!!rs
    Acredito na vida com essa intensidade. Essa força de sair da "cova" q se dormia, ou irmos direto pra ela. Leandro

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  7. Sim,eu vi depois que não era o último! Dei fé nisso por ter visto num tweet recente!!!
    Bom, de qualquer forma, tá valendo o comentário!

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